Desigualdade de Gênero na Área da Saúde
- Lara Beatriz
- 15 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Quantos artigos você já leu sobre a desigualdade de gênero no mercado de trabalho? E quantos você já leu sobre a desigualdade de gênero na área da saúde?
Poucos dias atrás eu abri a lista da chamada regular da universidade do curso de enfermagem de 2021 da minha cidade — para conhecer meus colegas de classe —. Eu me deparei com uma turma 92% feminina, salva apenas por 4 homens em uma turma de 25 alunos.
Enquanto eu lavava louça tentei juntar um compilado de motivos que justificassem essa discrepância de gênero no curso de enfermagem, e a discrepância de gênero no curso de medicina e suas especializações. Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), na área de enfermagem, 84,6% dos profissionais são mulheres. Dessa forma, a justificativa que contribui para esse fenômeno é a associação da mulher com habilidades de cuidadora. Analogicamente, as brincadeiras das meninas eram limitadas a “brincar de casinha” e ser mãe da sua boneca. Ruth Handler, a criadora da Barbie, disse que a criação da boneca era uma maneira de aumentar as possibilidades de imaginação da sua filha e de outras crianças, uma vez que o lema da Barbie é: “você pode ser tudo o que quiser”. Por que os homens não representam uma grande maioria nessa área também? De acordo com a revista Valor, 70,7% das vagas para os cursos das Engenharias são ocupadas por homens. Diante disso, pode-se perceber como o processo educacional familiar e social contribui para a formação de indivíduos distintos profissionalmente.
Mulheres não se arriscam em carreiras mais complexas ou são cogitadas e “treinadas” a não entrarem nesse universo?
“Grey´s Anatomy” é a personificação da virada de jogo e mostra o trajeto de várias mulheres médicas à frente de cargos de poder: chefe do setor de cardiologia, chefe do setor de neurologia, chefe do setor de ortopedia, chefe da cirurgia, chefe do setor de cirurgia geral... Lembro-me de um episódio em que um dos internos de cirurgia é confundido com uma enfermeira, porque é uma mulher. Enfermagem é uma área só para mulheres e Medicina é só para homens? As pessoas ainda não se acostumaram com o fato de termos mulheres à frente de situações difíceis. Elas não são frágeis, frescas, inúteis e muito menos descapacitadas. Elas aguentam segurar um bisturi nas mãos.
Não existiam muitas mulheres no curso de medicina até pouco tempo atrás, mas isso vem mudando. OK! Agora temos uma turma mais ou menos dividida igualmente, homens e mulheres no mesmo espaço. O problema, a estatística alarmante está nas especializações. Por que muitas mulheres tendem a escolher obstetrícia/ genecologia, pediatria e dermatologia como suas especializações? Não são carreiras fáceis (eu reconheço), mas se assemelham bastante com o ideal feminino que a sociedade cria das mulheres. Nesse viés, consoante ao site UOL, mulheres representam as maiores porcentagens nas especializações de dermatologia (77,1%), pediatria (74,2%), endocrinologia (70,4%) e genecologia e obstetrícia (56,6%). No entanto, entre as especialidades com menor participação do sexo feminino estão: ortopedia e traumatologia (6,5%), a neurologia (8,6%) e a cirurgia torácica (9,5%). A Dra. Sara Fortes Portela representa a pequena porcentagem de mulheres especializadas em ortopedia e traumatologia no Piauí. E quantas mais teremos? Mulheres na ciência representam um futuro justo, igualitário e contribuem para descobertas fantásticas e revolucionárias. Deem voz as nossas mulheres e elas mostrarão do que são capazes.
A física e química Marie Curie, que conduziu pesquisas pioneiras sobre radioatividade; as cientistas Jaqueline de Jesus e Ester Sabino — as primeiras brasileiras a sequenciarem o genoma do novo coronavírus no tempo recorde de dois dias —, Hipátia de Alexandria, a primeira mulher matemática da história; Matilda Moldenhauer Brooks, que descobriu, em 1932, o antídoto ao envenenamento por monóxido de carbono e cianeto; Ada Byron, considerada a mãe da computação por desenvolver o primeiro algoritmo para ser usado em um computador; Katherine Johnson, funcionária da NASA, trabalhou realizando cálculos e foi promovida a líder de cálculos e participou de equipes com missões para a Lua e Marte; Gertrude Bell Elion, bioquímica que desenvolveu medicamentos utilizados no tratamento de leucemia, AIDS e herpes.
A todas essas mulheres incríveis, que não se deixaram limitar pelas palavras e ideias cavernosas de sua época, o nosso muito obrigado! Que tenhamos mais mulheres na história da ciência que se arrisquem e conquistem o mundo.
Lara Beatriz
P.s.: Todas as fontes deste documento foram publicadas em 2018, 2019 ou 2021. Adaptadas a linguagem do texto, mas sem alterar as informações ou dados estatísticos.
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