Entrei em uma Liga Acadêmica
- Lara Beatriz
- 4 de dez. de 2023
- 3 min de leitura
Definitivamente a graduação de enfermagem não se parece em nada com “Grey´s Anatomy”. Apesar de eu citar um episódio da série em todas as aulas do primeiro período e ainda ganhar congratulações por isso. Grey´s literalmente me fez passar de período. Mas parece que só funciona na era on-line da graduação, ou seja, eu estou à deriva no mar a partir de agora. Claro que tenho outros recursos de sobrevivência, mas nem um tão bom quanto essa série.
Nesse contexto, minha cabeça só funciona no meio do caos, então obrigatoriamente eu tenho que me envolver em diversas atividades ao mesmo tempo. Eu entrei em uma liga! Essa liga não mudou drasticamente minha vida, mas chegou bem perto disso. A liga perfeita para eu citar os meus episódios de “Grey´s anatomy”. Imediatamente veio Miranda Bailey na minha cabeça. Eu já podia fazer conexão com ela e o tema antes mesmo de saber o cronograma das aulas. Eu estava confortável. Eu tinha opiniões. Eu já sabia de cor. Mas eu não precisava disso. A minha passividade já era suficiente. Eu precisava ouvir mais do que falar.
Eu ficava ansiosa pelo título da aula, tentando bolar uma frase genérica pra poder participar ativamente quando me fosse solicitado. E eu ficava calada, só na confirmação ou negação pelo chat da chamada. Eu sabia de tanta coisa. Eu “auto assistia” a minha mente por meio dos nossos encontros. Eu percebia que não estava errada sobre o que pensava, eu poderia falar o que quisesse e eu saberia que não ofenderia ninguém ou falaria alguma coisa errada. Mas a liga não era sobre mim ou o que eu sabia. Até porque eu só tinha a minha perspectiva como base para o assunto, o que não valia mais que os relatos, o conhecimento e as informações vindas daquelas pessoas. Um choque de realidade. Uma imersão na cultura, na religião, na saúde da população negra. Uma experiência realmente inovadora e revolucionária.
Mas Miranda Bailey ainda batuca na minha cabeça, querendo sair e virar um texto como esse. Gosto disso, de causar o mínimo de reflexão nas pessoas usando coisas como “Grey´s Anatomy”. Eu fico o tempo todo analisando tudo o que eu assisto, imaginando que sempre tem algo a mais. E tem. Esse texto é fruto de uma dessas análises, Miranda Bailey também. Tem pontos sobre ela que quero contar, da minha perspectiva.
“Grey´s Anatomy” é uma das minhas séries favoritas da vida, não só porque sou uma estudante da área da saúde, mas porque me forçou a construir opiniões. Como a Bailey teve que ser 10x melhor que o resto da turma pra conseguir chegar aonde chegou; como ela não tem o direito de falhar ou de faltar o trabalho porque vão justificar isso pela cor da sua pele e por ser mulher; a triste cena em que ela diz a seu único filho como reagir a uma abordagem policial para que ele não seja morto; pacientes recusando o seu atendimento por ser negra; pessoas dizendo que ela está “mais emotiva e menos racional” depois que se tornou mãe; Miranda vendo como a COVID-19 atingia desproporcionalmente os negros americanos. Todas essas cenas passaram pela minha cabeça e eu só queria externá-las de alguma forma. Miranda Bailey retrata, de uma maneira bem enxuta, a realidade de muitos. E muitas vezes damos mais importância a dor e sofrimento de um personagem fictício do que a dor real das pessoas que vivem ao nosso redor. Pequenas atitudes são um grande passo rumo a uma sociedade menos racista.
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